O Cane Corso na cultura e arte italiana

O Cane Corso, uma raça de cão profundamente enraizada na cultura e história italianas, não só tem sido um companheiro leal e um guardião eficaz ao longo dos séculos, mas também tem deixado sua marca inconfundível na arte italiana. Esta raça majestosa e robusta, conhecida por sua força e caráter determinado, tem sido uma fonte de inspiração para artistas desde a Renascença até os tempos modernos.

Na venerada Galeria Borghese de Roma, lar de inestimáveis tesouros artísticos, destaca-se o ‘Rapto de Proserpina’, obra-prima de Gian Lorenzo Bernini de 1622. Entre as nuances da escultura, encontra-se uma representação menos notada mas intrigante: Cérbero, o canino tricéfalo do mito, modelado a partir do Cane Corso. Este detalhe, frequentemente ofuscado pela majestade da obra principal, oferece um vislumbre da utilidade e estima dessa raça na Roma do século XVII. O Cane Corso, empregado por açougueiros e boiadeiros, exibe na escultura suas características distintas: físico robusto e musculoso, focinho forte, e orelhas cortadas. Esta representação, livre das exagerações cinófilas modernas, como a pele solta, ressalta a forma original da raça, que, após um quase esquecimento, vem ganhando popularidade mundial. A recuperação do Cane Corso, sugere Bernini, pode estar revitalizando outras raças molossoides, salvando-as da degeneração genética

Na tapeçaria da história italiana, o Cane Corso, uma raça canina robusta, emerge não apenas nas ruas e fazendas, mas também na heráldica. Essas representações, adornando brasões de famílias nobres como os Corsi e os Gonzaga, servem como símbolos de força e lealdade. O Cane Corso, distinto de outras raças europeias de cães de presa, reflete uma herança cultural italiana. Na heráldica, o cão é frequentemente retratado em uma pose de ataque, destacando sua função histórica como um cão de presa. Esse elemento da cultura italiana sobreviveu ao teste do tempo, representando a continuidade da tradição e da excelência nacional na criação de cães.

Aquarela de Achille Pinelli (1809-1841) – Cane Corso trabalhando nas ruas de Roma;

Outras referências notáveis do Cane Corso na arte italiana incluem sua presença em pinturas de cenas de caça do período renascentista, onde sua bravura e habilidade como caçador eram frequentemente celebradas, e em esculturas e frescos de casas nobres, onde eram retratados como símbolos de proteção e status. Essas representações artísticas não só celebram a beleza e a força do Cane Corso, mas também preservam a memória de uma raça que faz parte integrante do patrimônio cultural italiano.